Convites para formaturas e casamentos, fotos de festas de aniversário, acrósticos. Em cima de uma mesa do 11o andar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) estão registros de vidas salvas pela Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia Pediátrica do Serviço de Pediatria. São lembranças de crianças que passaram por transplantes de fígado ao longo dos últimos 30 anos. Como agradecimento, eles compartilham com a equipe os bons momentos que vieram depois.
O primeiro transplante de fígado infantil que aconteceu no Clínicas foi realizado em 28 de março de 1995. O Hospital, que já era um centro de referência em doenças hepáticas, foi o segundo do país e o primeiro no estado a implantar um programa desse tipo, antes mesmo do adulto. A iniciativa surgiu após um estudo de 1993, que apontava as doenças hepáticas como a terceira causa mais frequente de óbito entre as crianças internadas no hospital. “A nossa participação ia até um certo ponto, e eu queria tudo” relembra a primeira chefe do Serviço, Themis Reverbel da Silveira - até então, esse procedimento era realizado apenas em São Paulo ou nos Estados Unidos.
Desde a implantação, foram realizados 317 transplantes em 299 pacientes (alguns precisaram se submeter mais de uma vez ao procedimento). A média anual tem ficado em 20 transplantes. “O índice de sobrevivência no primeiro ano, de 92%, é semelhante ao dos Estados Unidos, o que comprova a competitividade e excelência do trabalho desenvolvido aqui”, destaca a coordenadora do programa de transplante hepático infantil, Sandra Gonçalves Vieira. Ela também cita a especialização de toda a equipe como responsável pelos bons resultados.
O segundo paciente a ser transplantado pelo Serviço é Guilherme Araújo, hoje um engenheiro mecânico de 32 anos. O prognóstico era de que ele precisaria de um novo órgão por volta de 10 anos, mas com menos de três anos o quadro se complicou e a indicação foi um transplante de emergência. O procedimento, naquela época, não era tão conhecido. “Ficamos em choque, mas confiamos que daria certo”, conta a mãe, Rosalba Pereira, que fez questão de seguir compartilhando momentos do filho com a equipe do hospital. “Se não fosse a família do doador e essa equipe maravilhosa do Clínicas o meu filho não estaria vivo”, agradece.
Alguns marcos da história do transplante de fígado pediátrico do HCPA:
1995 - primeiro transplante
2002- primeiro transplante intervivos. Hoje, mais da metade dos transplantes realizados no hospital são dessa modalidade
2018- transplante em paciente com Tumor de Frantz, lesão que se origina no pâncreas e com raras metástases no fígado. Só há dez casos registrados na literatura médica.
2019 - transplante de fígado e medula óssea em paciente de porfiria
2022- transplante Dominó: parte do fígado de uma criança saudável foi doada para criança com doença metabólica, que não possuía doença hepática. Esta, por sua vez, doou o fígado para uma criança com cirrose hepática.
Na sala do Programa de Transplante Hepático Infantil, estão as fotos enviadas pelos pais dos pacientes
Recordações das crianças e jovens que receberam atendimento
Registro antigo de uma das equipes do Serviço
Fotos: Clóvis Prates/HCPA