Os povos indígenas brasileiros têm enfrentado um aumento sem paralelo na taxa de doenças cardiovasculares após uma rápida transição nutricional para dietas mais urbanas. Estudo desenvolvido por pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), da UFRGS e da Universidade de Toronto destaca a urgência do reforço de políticas ambientais de conservação do ecossistema natural dentro dos territórios indígenas, bem como o desenvolvimento de políticas sociossanitárias para melhorar a saúde cardiovascular dos indígenas que vivem em áreas urbanas. A pesquisa é parte de uma série especial da revista científica The Lancet sobre racismo, xenofobia e discriminação e seus impactos na saúde de populações vulneráveis.
Segundo a análise, a prevalência de obesidade foi 3,5 vezes maior em quem vive em territórios indígenas urbanizados (28%) do que naqueles que vivem em terras com mais de 80% da Amazônia nativa. Em um recorte dos anos de 1997 e 2019, a taxa de mortalidade cardiovascular em indivíduos residentes na região sudeste, a mais urbanizada, foi 2,5 vezes maior do que o observado no norte. A pesquisa aponta ainda que as taxas mais altas de obesidade das populações indígenas se dão nas regiões sul e centro-oeste, chegando a 23%, e que a hipertensão, na região sul, atinge 30% desse grupo de pessoas. Em contraste, as taxas mais baixas de obesidade (11%) e hipertensão (1%) foram observadas nas regiões menos urbanizadas, no norte do Brasil.
A pesquisa englobou a meta-análise de diversos estudos publicados entre 1950 e 2022 sobre saúde metabólica de comunidades indígenas e dados de desmatamento, além de informações de mortalidade cardiovascular do Registro Brasileiro de Saúde. Foram identificados 46 estudos, incluindo um total de 20.574 adultos de pelo menos 33 etnias indígenas brasileiras. O estudo The impact of urbanisation on the cardiometabolic health of Indigenous Brazilian peoples: a systematic review and metaanalysis, and data from the Brazilian Health registry é de autoria das professoras Caroline Kramer (ao centro na foto), Cristiane Leitão (à esquerda) e Luciana Viana, e foi publicada na edição de 10 de dezembro de 2022 da revista The Lancet.