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destaque da pesquisa agosto

Transtornos mentais graves são doenças crônicas que impactam na qualidade de vida e geram alto custo social, sendo a esquizofrenia uma delas. Com a evolução do problema, pode ocorrer uma aceleração do envelhecimento da pessoa, independentemente da idade. Um estudo realizado no Laboratório de Psiquiatria Molecular do Centro de Pesquisa Experimental do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) confirmou que há dois momentos na vida os quais podem contribuir na progressão da esquizofrenia, após o aparecimento dos sintomas: alterações no desenvolvimento cerebral e sua degeneração.

O trabalho faz parte da tese de doutorado da psicóloga Letícia Czepielewski do HCPA/UFRGS, a única na área da saúde realizada no âmbito do hospital a receber menção honrosa no prêmio Capes de tese de 2017. Ela e o grupo de pesquisa liderado pela professora Clarissa Gama reuniram dados de 2010 a 2015, mapeando 60 pacientes sem transtornos mentais e 48 com esquizofrenia. “Usamos biomarcadores e neuroimagem para avaliar a estrutura física e mental dessas pessoas e, então, comparamos aspectos como performance da memória, por exemplo”, relata. Para que sintomas da esquizofrenia ocorram, são necessários, além de uma carga genética, fatores relacionados à história de vida, como uso de drogas e situações de estresse. "A predisposição genética apenas deixa a pessoa vulnerável à doença. Contudo, seu processo de avanço depende do suporte recebido para o desenvolvimento mental e social na infância e na adolescência”, acrescenta Czepielewski.

Mesmo quando a enfermidade estiver diagnosticada, o cuidado continua sendo fundamental. Assim, o processo degenerativo pode ser desacelerado, aumentando a expectativa de vida do paciente. “Seguir o tratamento e fazer o controle com medicação é essencial para elevar a qualidade de vida e frear o envelhecimento precoce que a esquizofrenia pode provocar”, explica a pesquisadora. Um dos parâmetros usados para essa conclusão foi a análise do comprimento dos telômeros. O telômero protege o material genético e diminui naturalmente ao longo da vida.  Porém, em pacientes com esquizofrenia ele parece ser menor. “Isso está relacionado a variáveis como memória, inflamação, tamanho da massa cinzenta do cérebro e, consequentemente, envelhecimento acelerado. Por fim, corpo e mente estão ligados integralmente no desenvolvimento da esquizofrenia”, conclui.

Tese Trajetórias de transtornos mentais graves: contribuições da pesquisa em esquizofrenia, de Letícia Sanguinetti Czepielewski; orientada pela professora Clarissa Severino Gama, defendida no Programa de Pós-Graduação (PPG) em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS, em 2016.

* Para o mês de agosto, o critério de escolha foi: dissertação/tese realizada no HCPA e concluída nos últimos dois anos.