O câncer hereditário é o tema escolhido para o 28 de novembro, Dia Nacional de Combate ao Câncer. Um evento, organizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) para discutir formas de identificar e prevenir esses tumores, vai contar com especialistas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O HCPA é o único do Rio Grande do Sul que oferece aconselhamento genético pelo SUS para pacientes que podem desenvolver a doença.
A professora do Serviço de Genética Médica do HCPA Patrícia Ashton-Prolla será palestrante do evento. Segundo ela, em média 10% de todos os casos de câncer têm causa hereditária - em alguns a incidência é de 20%. A estimativa é de 700 mil novos casos de câncer no país entre 2023 e 2025. Ou seja, seriam cerca de 70 mil novos tumores hereditários surgidos neste período.
A descoberta de que o paciente tem chances de desenvolver um câncer hereditário é feita por um teste genético. Mas saber da predisposição é apenas o primeiro passo. O padrão hereditário serve para indicar a realização de mais exames preventivos, não só para o paciente, mas também para a família. Além disso, existem procedimentos que diminuem o risco de desenvolver o tumor. Um exemplo é o da atriz Angelina Jolie, que após o aconselhamento, fez uma cirurgia para retirar as mamas. Patrícia, que é diretora da Rede Brasileira de Câncer Hereditário (Rebrach), defende a criação de uma linha de cuidado integral no SUS para pacientes com câncer hereditário, da consulta de acompanhamento, passando pelo teste genético e culminando com os exames e procedimentos indicados. “A ênfase na prevenção primária pode aumentar o número de pessoas diagnosticadas e proporcionar um tratamento mais barato e simples, quando as chances de cura são maiores, ou até mesmo evitar que a doença se desenvolva. Se o SUS conseguir atuar nesses 10% com mais chances já é uma vitória ", afirma ela.
O HCPA é um dos centros formadores em Oncogenética. Os residentes da Oncologia e da Genética passam por estágios no Serviço de Medicina Genética. O Serviço também possui um ambulatório para o acompanhamento genético de pacientes, que são encaminhados pela rede básica de saúde ou por outras áreas do hospital e podem seguir com os tratamentos recomendados. Os que integram projetos de pesquisa têm acesso aos testes - que ainda não estão disponíveis no SUS - gratuitamente.
Para a chefe do Serviço de Oncologia do HCPA, Alice de Medeiros Zelmanowicz, o diagnóstico precoce é sempre melhor, para o paciente e para a sociedade. “Aumentar o conhecimento e informação é fundamental, porque faz diferença na qualidade de vida e reduz os custos do tratamento", afirma. Um estudo feito no Reino Unido em 2016 mostra que os gastos com prevenção são quatro vezes menores do que o tratamento para casos avançados.
Veja alguns casos em que o aconselhamento genético pode ser recomendado:
- famílias que registram casos de câncer em mais de uma geração;
- famílias em que mais de uma pessoa na mesma geração teve câncer;
- quando uma mesma pessoa da família teve mais de um tipo de câncer;
- casos de câncer muito precoces na família.