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O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) alcançou um feito significativo na área da saúde no Brasil, com a realização do 300º transplante hepático pediátrico. Theyllor Evangelista Martins, 6 anos, foi o paciente beneficiado com o procedimento, recebendo parte do fígado de seu tio, Márcio Alves Martins.

Após o procedimento, ainda internado no Clínicas, Theyllor já tem planos.  Com um sorriso tímido, ele já sabe o que pretende fazer quando voltar para casa: “A primeira coisa que eu quero é beber leite com Nescau”.  A cirurgia, realizada em 16 de fevereiro, contou com a participação multiprofissional das equipes do Programa de Transplante Hepático Infantil e Adulto, Cirurgia Pediátrica, Cirurgia de Aparelho Digestivo, Nutrição, Psicologia, Assistência Social e Enfermagem Pediátrica e UTI Pediátrica do HCPA. 

O transplante de fígado deu a oportunidade de uma vida nova para o garoto, assim como para várias outras crianças que passam pelo HCPA. Uma das responsáveis pelo tratamento é a professora e chefe da Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia Pediátrica, Sandra Vieira. “Até o momento, 285 crianças tiveram o seu fígado doente substituído por um novo, e 15 fizeram mais de um procedimento. Passamos pela curva de aprendizagem e hoje alcançamos valores de sobrevida equiparáveis aos melhores centros do mundo, acima de 95% em um ano, e acima de 85% em cinco anos”, afirma. 

O Programa de Transplante Hepático Infantil do HCPA, que completa 29 anos em março, foi uma iniciativa da professora Themis Silveira e do professor Guido Cantisani, ambos já aposentados. O primeiro transplante de fígado realizado no hospital foi em uma criança, em 1995, e um ano depois, o procedimento começou a ser realizado em adultos também. 

Hoje, o HCPA é o terceiro maior centro de transplante hepático pediátrico do Brasil, e segundo a professora Sandra, este mérito é de todos que atuam no hospital. “Isso é graças a comunidade inteira do HCPA. E nessa celebração só temos a agradecer por essa parceria”, comemora. 

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Marcas causadas pelos xantomas na mão do menino

 

Luta pela vida

Nascido no Clínicas, Theyllor teve uma obstrução biliar grave aos dois meses de idade e, na época, passou por um procedimento cirúrgico complexo. Aos dois anos, teve problemas com o colesterol alto, exigindo mais cuidados. “Ele trocou o leite desnatado por água de mingau, começou uma dieta muito restritiva e, assim, diminuiu o colesterol e ganhou peso”, relata Elisandra Dias Sigales, a madrasta e uma das principais cuidadoras de Theyllor.

O menino também precisava de atenção extra com a pele devido aos xantomas, que são manchas que aparecem em várias partes do corpo devido à alta quantidade de colesterol na circulação sanguínea. Theyllor passava noites em claro por conta das coceiras causadas na pele. “Eu acordava de madrugada para dar banho e ver se aliviava a coceira. Ele não gostava de brincar com outras crianças porque vivia se coçando e as pessoas comentavam e riam dele”, relata Elisandra. 

A condição de saúde do menino se deteriorou e a necessidade de transplante foi diagnosticada. Para o caso, a legislação permite a doação intervivos, quando um familiar pode doar parte do seu fígado. Quem teve compatibilidade identificada foi Márcio Alves Martins, irmão do pai de Theyllor. 

 

Uma nova chance

Márcio se emociona ao falar sobre como foi poder fazer algo dessa magnitude para o sobrinho. “Nunca tinha sentido uma sensação tão boa em fazer parte de algo tão grandioso, ainda mais pra ajudar alguém. As equipes médica e de Enfermagem foram exemplares. Fui muito bem atendido e me senti muito seguro. Todos foram muito dedicados, calmos e simpáticos”, lembra. A mãe de Theyllor, Gabriela Evangelista, considera o transplante uma vitória. “O tio dele poder ter sido o doador foi uma benção para nós”, conta.  

Após o procedimento, Alexandre Alves Pacheco, o pai de Theyllor, observou a melhora da saúde do filho. “Finalmente temos paz. Meu filho finalmente conseguiu ter uma noite tranquila, mesmo estando na UTI”, afirma. Segundo Elisandra, no terceiro dia de pós-operatório as coceiras desapareceram. “Ele me dizia: Olha, mãe! Nem tô me coçando mais!”, conta.

 

Gratidão

Alexandre destaca também a relação da família com o HCPA, desde o nascimento da criança. “O Hospital de Clínicas para mim é um amor eterno. Ainda vamos ter muitos anos juntos após o transplante. Se eu pudesse daria um abraço em todos os profissionais que nos ajudaram, desde a moça que limpa o quarto até os médicos da UTI. Eu sou grato a todos que fazem a diferença na vida do meu filho desde os dois anos de idade”, relata o pai. 

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"Se eu pudesse daria um abraço em todos que nos ajudaram", diz o pai do paciente