A família primeiro. A frase simples, quase um clichê, ganha mais significado quando dita por V.M.P, um homem jovem, com câncer em estado terminal. Ele está internado e recebe atenção da equipe multiprofissional de Cuidados Paliativos do HCPA. No dia destas fotos, teve um pedido especial atendido: comer uma Ala Minuta com sua mãe e irmãos.
A própria reaproximação com a família, após um difícil período nas ruas, foi carinhosamente realizada pelos profissionais do Clínicas. A vida pode ter rumos inimagináveis. No Clínicas, lugar de assistência plena e humanizada, não há espaço para julgamentos. Os Cuidados Paliativos têm foco centrado na pessoa, no respeito à autonomia e no suporte à família.
A refeição ao ar livre, sob a sombra das árvores, foi uma celebração do amor, daquilo que sempre permanece. Sorrisos, abraços, e, claro, também lágrimas. Momentos que põe tudo em perspectiva. Questionado se preferia comer ou fazer a foto primeiro, V.M.P não titubeou: a família primeiro.
Confira o relato da residente médica Mariana Ramos Vieira, que atua junto aos demais profissionais do Serviço de Dor e Cuidados Paliativos do HCPA
Cuidados Paliativos, para além da ciência biológica:
Paciente jovem, oncológico metastático, fase de fim de vida, longa internação prévia (mais de 2 meses), com dor total, chorando, envergonhado pelo odor das lesões oncológicas, sentindo-se abandonado. Assim conheço V.M.P, na emergência do HCPA, reinternando pouco mais de um mês da última internação, fragilizado, vulnerável, desamparado. Pego uma cadeira, sento próximo ao paciente, inicio comunicação com escuta empática, acolho suas dores.
Dia 24 de outubro, 27 dias de internação, com altos e baixos, com estreitamento da perspectiva de alta hospitalar pela crescente proximidade da morte, associado a complexidade do manejo em todas as suas dimensões (física, sócio-familiar, psicológica e espiritual), com resposta parcial aos tratamentos protocolares, amparada e alçada pela equipe multiprofissional dos cuidados paliativos, fomos além da ciência, trazendo memórias afetivas do almoço em família, equilibrando a alquimia da vida, com foco na dignidade humana.
