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Os resultados da pesquisa Relação entre uso de álcool, drogas e comportamentos de risco no trânsito: avaliação de motoristas utilizando simulador de direção, realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), foram apresentados nesta quinta-feira (24/11) durante seminário na instituição. O trabalho foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do HCPA (CPAD), coordenado pelo professor de Psiquiatria Flávio Pechansky (foto), em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad). O diferencial do estudo foi a utilização de um simulador de direção com tecnologia canadense para aferir a reação dos condutores às situações de trânsito apresentadas. Os resultados foram complementados com testes psicológicos e biológicos e avaliação do perfil sociodemográfico e de direção. 

Com base nas informações levantadas, o objetivo é subsidiar a implementação de políticas públicas específicas e soluções para a segurança no trânsito. “Esse estudo tem que ter algum grau de devolução direta para a sociedade, pois esse tem sido o mote das pesquisas que temos desenvolvido até agora”, destacou Pechansky. Entre os participantes do seminário estavam representantes da Polícia Rodoviária Federal e da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).  

Para compor o estudo, foram convidados a participar condutores homens de diferentes perfis, com idades entre 19 e 60 anos. A partir de características biológicas, psicológicas e neurobiológicas de quem bebe e dirige e de quem utiliza celular ao volante buscou-se apresentar os principais fatores associados aos comportamentos de risco no trânsito na amostra estudada. De acordo com estatísticas da Organização Mundial da Saúde, as colisões lideram as mortes até 30 anos de idade no mundo; em rodovias federais brasileiras, 25,6% das mortes por colisões ocorrem por desatenção nessa mesma faixa etária, segundo dados de 2019 da Polícia Rodoviária Federal. 

Entre os resultados obtidos na pesquisa, destacam-se:

  • Os fatores associados a comportamentos de risco no trânsito em homens adultos no Brasil são histórico de beber e dirigir, gravidade do consumo de álcool, violações relacionadas a outros comportamentos de risco e impulsividade. A amostra abrangeu 52 motoristas, sendo 28 com histórico de beber e dirigir e 24 sem esse histórico. 
  • Em outra análise com 63 condutores do sexo masculino, verificou-se que aqueles que bebem doses elevadas de álcool (considerados bebedores compulsivos) apresentam o maior risco de dirigir sob o efeito de álcool. Eles têm como características dirigir mais quilômetros por dia e apresentar maior pontuação no traço extroversão, maior aceleração na ultrapassagem e altos escores no quesito “não respeitar o sinal vermelho e a placa de pare”.
  • Na análise sobre os fatores associados ao uso de celular no trânsito, durante a situação de frenagem de emergência, a condição de texto pareceu reduzir a capacidade do motorista de frear apropriadamente mesmo em velocidades menores do que na condição por voz ou controle. Nessa amostra, verificou-se também que quem nunca usou tabaco, não usa celular na direção, enquanto aqueles que fazem uso pesado de tabaco utilizam o celular na direção semanal ou diariamente. 

Também participou da apresentação o diretor médico do HCPA, Brasil Silva Neto, que ressaltou a importância da parceria firmada entre órgãos públicos (HCPA e Senad) que se preocupam com a sucessão de mortes e incapacidades totalmente preveníveis por questões comportamentais que afetam o indivíduo, suas famílias, suas relações sociais e profissionais. “Temos a atuação protagonista do CPAD no sentido de trabalhar com prevenção primária, educação da população e saúde mental e física. A amplitude desse projeto é extremamente grande e vai além do foco específico da pesquisa”, disse. 

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