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A equipe do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (Cpad) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre realizou investigação sobre o impacto da pandemia da covid-19 no acesso aos serviços de saúde mental no Brasil. Os pesquisadores compararam a média de atendimentos ambulatoriais e hospitalares registrados no SUS de 2016 a 2020, com a expectativa prevista caso não houvesse a pandemia.

Os resultados demonstram que os atendimentos tiveram redução de 28% nas consultas ambulatoriais e de 33% nas hospitalizações psiquiátricas. Em conjunto, isso significa que mais de 600 mil atendimentos podem não ter sido realizados. Além disso, em modalidades como os grupos terapêuticos (importantes no tratamento de pacientes crônicos) o impacto foi ainda maior, na ordem de 68%. Apesar dos atendimentos de Emergência e domiciliares terem sido superiores ao estimado, respectivamente 36% e 52%, o aumento bruto é inferior a 20 mil consultas, insuficiente para compensar a queda geral.

Conforme o pesquisador Felipe Ornell, os resultados são preocupantes e podem levar à sobrecarga do sistema de saúde mental no futuro. “Durante a pandemia diversos estudos evidenciaram o surgimento e o agravamento de condições psiquiátricas. Somando isso à redução da assistência, é possível que a crise de saúde mental seja agravada, gerando uma pandemia paralela, com impactos econômicos e sociais que podem ser mais duradouros do que a pandemia do coronavírus”, ressalta.

O estudoThe next pandemic: impact of COVID-19 in mental healthcare assistance in a nationwide epidemiological study, de autoria Felipe Ornell, Wyllians Vendramini Borelli, Daniela Benzano, Jaqueline Bohrer Schuch, Helena Ferreira Moura e Anne Orgler Sordi, entre outros, foi publicado no The Lancet Regional Health Americas. O trabalho contou com financiamento da Capes.