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Até que ponto a irritação e a birra das crianças podem ser consideradas algo normal? E a partir de quando se torna necessário procurar a atenção de um profissional da saúde? Para responder a estas perguntas, pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da Universidade Federal de Pelotas analisaram dados de mais 3,5 mil meninos e meninas, que tiveram acompanhamento de especialistas ao longo de seu crescimento. O objetivo foi estabelecer padrões que balizem o diagnóstico correto do Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor, que caracteriza a raiva excessiva.

A avaliação foi feita com métodos estatísticos complexos, testando e escalonando quais comportamentos são efetivamente graves, analisando de que maneira os sintomas se combinam e como estão relacionados às dificuldades em diferentes aspectos da infância. “Por exemplo, se durante uma crise de birra a criança ameaça se cortar ou se matar, isso é um indicativo de problema. Buscamos estabelecer métodos científicos para definir os limites entre a raiva que faz parte do desenvolvimento saudável e aquela que pode indicar a presença de um problema de saúde mental”, explica o supervisor do estudo Giovanni Salum.

O Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor, diagnóstico que caracteriza as irritabilidades patológicas, tem duas principais características: as crises de birra, que dizem respeito ao comportamento (xingar, gritar, arremessar ou quebrar coisas), e o humor persistentemente irritado, que refere-se ao sentimento da criança (frustração e raiva). A isto, acrescentam-se os possíveis prejuízos no rendimento escolar, convívio familiar e com amigos. A pesquisa faz parte da tese de doutorado da psiquiatra Paola Paganella Laporte e está ajudando a definir parâmetros para o diagnóstico preciso dessa condição de saúde.

O trabalho é um dos primeiros a ser disponibilizado no conceito de Ciência Aberta (Open Science), ou seja, os resultados estão disponíveis em uma plataforma virtual onde artigos ainda não publicados ficam disponíveis para todos que tiverem interesse. A prática valoriza a disponibilidade dos achados de pesquisa produzida com recursos públicos. 

Artigo Disruptive Mood Dysregulation Disorder: symptomatic and syndromic thresholds and diagnostic operationalization, de Paola Paganella Laporte, Alicia Matijasevich, Tiago N. Munhoz, Iná S. Santos, Aluísio J. D. Barros, Daniel Samuel Pine, Luis Augusto Rohde, Ellen Leibenluft, Giovanni Abrahão Salum, disponível no reservatório pré print MedRxiv.

*Para o mês de agosto, o critério do Destaque da Pesquisa foi: dissertação ou tese realizada no HCPA e concluída ou em andamento nos últimos dois anos.

destaque da pesquisa 2019 08