A espinha bífida, ou mielomeningocele, é uma malformação do fechamento da coluna vertebral que deixa a medula espinhal e as terminações nervosas do feto expostas dentro do útero da mãe. Desde abril, de forma pioneira no Rio Grande do Sul, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre começou a realizar cirurgias intrauterinas que corrigem a  imperfeição. 

Pedro Henrique, que passou pelo procedimento, e a mãe Danielle já tiveram alta. Ele nasceu no dia 19 de julho, quando o HCPA completou 50 anos.

A realização do procedimento intrauterino acontece com abertura do abdômen, entre a 19ª e 26ª semana de gestação, e traz benefícios como a chance duas vezes maior da criança poder caminhar sem auxílio e também a redução da necessidade de uso de dreno para evitar a hidrocefalia após o nascimento. 

A professora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia Daniela Vettori explica que a cirurgia não é isenta de riscos gestacionais, relacionados principalmente à prematuridade, e por isso a equipe conta com o apoio da equipe da Neonatologia. “É uma alegria podermos viabilizar o procedimento para gestantes do Sistema Único de Saúde. Antes, conseguíamos realizar o diagnóstico, mas não podíamos oferecer o tratamento precoce, era frustrante”, ressalta. 

O professor José Antônio Magalhães, coordenador da Unidade de Medicina Fetal do Hospital de Clínicas, explica que somente hospitais de alta complexidade e bem estruturados, com diversas áreas de apoio especializadas, podem realizar o procedimento. Antes, a cirurgia era realizada logo após o nascimento, mas os nervos ficavam o tempo todo da gestação expostos a impactos e ao contato com o líquido amniótico. “A sensação de fazermos estes atendimentos, que trazem tantos benefícios é muito gratificante”, finaliza. 

As três cirurgias já feitas foram realizadas pela equipe formada por Daniela Vettori, da Medicina Fetal, o neurocirurgião Jorge Bizzi, os anestesiologistas Adriano Aguzzoli e Carolina Schiavo, e contou com a presença de Fábio Peralta, referência neste procedimento no Brasil.