Início do Conteúdo


Doença degenerativa que afeta a memória e outras funções mentais, o Alzheimer assusta aqueles que se aproximam da terceira idade e seus familiares. Isso porque ainda não foi encontrado tratamento eficaz ou cura para a enfermidade, que começa a manifestar sintomas em pessoas com idade já avançada. Esta característica, no entanto, foi questionada em um estudo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A hipótese que a pesquisa levanta é a de que pessoas com alto risco genético para o desenvolvimento do Alzheimer apresentam sinais de pior performance em testes de memória já na infância.

“O que estamos propondo é que talvez o problema não se inicie com a degeneração do cérebro, mas durante seu desenvolvimento. E isso desafia a ideia de que esta seja uma doença do final da vida”, explica Giovanni Salum, professor do HCPA e orientador do artigo recentemente publicado no American Journal of Psychiatry. De autoria principal da bolsista de iniciação científica Luiza Axelrud, a pesquisa é um recorte do projeto Conexão Mentes do Futuro, que iniciou em 2010 e vem coletando dados de 2.511 crianças, com idades entre seis e 22 anos, em Porto Alegre e São Paulo.

Por meio de testes de DNA, testes de cognição e exames de imagem (que avaliam a morfologia do cérebro), os pesquisadores calcularam o escore de risco genético e investigaram nos voluntários aqueles que teriam maior probabilidade de desenvolver o Alzheimer. “O que nos surpreendeu foi que, quanto maior o risco, pior era o desempenho em testes de memória da criança ou adolescente. Além disso, as crianças com risco muito elevado para a doença já apresentavam alterações no tamanho do hipocampo – região do cérebro relacionada à memória”, elucida Salum.

Apesar desses achados, o pesquisador afirma que os resultados são preliminares (ou seja, necessitam de maior investigação) e isso não significa que estas crianças e adolescentes desenvolverão Alzheimer na idade adulta. De qualquer forma, a pesquisa é valiosa porque traz à luz uma nova hipótese sobre como se desenvolve a doença e pode orientar novas estratégias de prevenção.